terça-feira, 3 de maio de 2016

   

Menino Antonio

O nome dele era Antonio. Quer dizer, eu acho né. Pelo menos tinha cara de Antonio, mas não sei dizer ao certo.
Antonio tinha lá pelos seus oito, nove anos. Aquela idade difícil... Apronta ali, apronta acolá, besteira ali, lá, cá... Dó mesmo eu tenho de seus pais, que provavelmente fazem de tudo para ver seu filho se quer uma vez acalmado, tranquilo, ou então sentado direito numa cadeira. Acho que é essa a idade que a maioria dos pais se separam, pois perdem a esperança e ficam exageradamente estressados. Mas talvez eu esteja falando muita bobagem, afinal, eu não sei absolutamente nada sobre relações de pais e filhos.. Se bem que Antonio tinha uma cara meio de criança com pais um tanto não presentes, digo eu e minhas não habilidades e entendimentos sobre o assunto.
Nome bonito que o menino tem... Na verdade, que eu dei pra ele. Me lembra a época do Grão, minha primeira escola. Mas enfim, eu gosto de observar o Antonio indo para a casa, suponho eu, com sua mochila Jansport azul escuro e preta, todo alegre, com um caminhar infantil e saltitante, como se estivesse ansioso para algo que o esperava em casa. Ou talvez ele simplesmente estivera feliz esse tempo todo de volta pra casa, pois não gosta da escola. Ou talvez por que ele fosse jantar sua comida favorita.
Sempre fui muito curiosa em relação ao menino. Nunca troquei uma palavra com ele, sequer um olhar, apenas o vejo todos os dias enquanto volto do trabalho, por trás de um vidro escuro que nos impede de ter qualquer contato.
Não me lembro ao certo o dia em que percebi que eu via o mesmo pequeno menino andando alegre e solitariamente de volta pra casa, mas acho que já fazem uns dois anos. Eu não me lembro muito bem de como ele era.
Às vezes fico imaginando se algum dia na vida, Antonio mudará de casa, e eu não o verei mais todos os dias, ou então se ele mudar de escola assim, consequentemente o caminho também mudará... Será que ele também me vê assim? Ele vê uma moça de trinta anos todo dia voltando pra casa, cansada, com o mesmo moletom cinza de elefante e calça jeans nos dias de frio? Ou então no calor, o vestido florido que eu ganhei da minha mãe e o all star azul? Será que um dia verei Antonio mais velho, e terei a coragem e atitude de chegar pra ele e dizer que vi ele crescer?

É, não sei, isso é meloso demais pra mim, fora que acho que nem vou lembrar dele, então deixa pra lá.